terça-feira, 28 de setembro de 2010

lágrimas de um vagao

Cedo, com os olhos ainda remelentos.
Segue o frio amigo, a chuva fosca.
entro nos vagoes silenciosos, cinzas, desbotados e estridentes.

Já nao é a primeira vez que vejo esses olhos.

uma fala só
sem som sai.

é estranho como um ar frio percorre minha alma e, ainda, corroi.

sinto um principio de dor do mundo, de dor da vida, do existir
dificil.

penso na infancia triste, o suburbio, o isolamento, a solidao

pode ser uma fonte inesgotável.
Nem sei se é minha ou se é sua.

Sei que seus olhos atravessam mais uma vez o vazio ao lado da
minha nuca. sobre meus ombros.

quem compraria um doce? quem daria uma palavra doce.
eu mesmo pouco tenho coragem. quase sempre.

sei que uma lágrima acida e corrosiva continua por dentro.

permanece. permanece.

desejo nao te encontrar mais.
Espero nao te ver mais com esses olhos.

Isso doi estranho.

Condiçao miserável a nossa, as vezes.

Por isso a frase ecoa em meus ouvidos de dentro:
"tem vezes que exaltar a alegria parece uma insensatez, de tão
longe. de tanta tristeza que parece nao cessar."

mais uma vez esses olhos. esse olhar.

uma lágrima em forma de nausea de cidade cinza.

tudo é impessoal. nada é sozinho. adeus

(Allan Belem)